Quando meu pai faleceu eu era uma menina deitada na preguiça.

Era um bem viver naquele campo de trigo

onde meus avos trabalhava dia e noite.

Um corre par cá e pra lá, muita pamonha,

mingau de milho, bolo e fubá marroquino.

Vovó gostava de mexer com a terra e os filhos também,

mas acabaram indo embora aos poucos para

estudar longe do milharal.

Meus pais ficaram, e os filhos também.

O dia despontava com a alegria da infância,

era menino correndo de um lado pro outro no quintal e

não conhecíamos outra vida, por tanto nada nos faltava.

 

E fui crescendo, na ponta dos seios surgiram

dois caroços doídos, como dava enjôo.

Veio a idade da vergonha, do pouco falar e pouco correr,

a preguiça foi espantada.

A idade foi me levando para terra e

o sol no milharal despontou paixão,

meus dias ficavam como os da minha avó,

pequeno e cansativo.

 

Fui levando a vida entre milhos e banho de cachoeira,

uma paz tão gostosa nos entardecer,

que quando o galo pensava cantava as cinco da manhã,

eu já estava com a boca na xícara de café e

bolo de milho na mão.

Até que um dia surgiu uma inquietude de conhecer alguém,

fui cozinhando o desejo do casamento e

amadurecendo a idéia que ia moendo meu peito.

 

Demorei acreditar num amor prometido na infância

no meio do milharal.

O menino tímido falada de amor com os olhos.

Quando o rapaz voltou a dizer das suas intenções,

decidi aceitar.

Minha paixão pela terra e pelo milharal era bem maior.

O rapaz fazia parte daquele mundo,

minha intenção era casar,

o tempo de ter família para mulher é curto,

dizia minha avó.

 

Meu marido era um homem sem jeito ou maneira,

um homem comum que cheirava a terra como nós.

No Inverno veio um homem italiano,

coberto de luxo e perfume conhecer o milharal,

papai queria vender parte da terra,

fiquei trêmula quando me olhou.

Fomos nos vendo um dia ali outro mais,

e pouco a pouco a raiz da paixão foi plantando

no meu peito o desejo louco de tê-lo pra mim.

 

Valério chegou na minha vida para me ensinar desejo e paixão,

dei um galope da morte para a vida.

Tudo era felicidade, sorriso e prazer ao lado dele.

Era duro olhar meu marido de frente,

o pobre sabia menos do amor que

qualquer animal irracional da terra.

Descobriu um dia nós dois no meio das palhas,

saiu de cabeça baixa para chorar.

Que besta! Fui consolar e contar que amava Valério.

O amor não venceu, a paixão ganhou pelo menos aquela vez.

Valério foi embora meses depois,

e meu marido calado ficou dormindo ao meu lado

como uma égua abandonada.

Que sorte a nossa,

o milharal continuava firme, soleado e prospero.

 

 

 

 

Clique na figura
envie sua mensagem


 


Voltar


| Home | Menu | Fale  Comigo |
| Adicionar aos seus Favoritos |


Desde 12.09.2010,
você é o visitante nº


 

Direitos autorais registrados®
Direitos autorais  protegidos pela Lei 9.610 de 19.02.1998

Site desenvolvido por WebÁguia - www.webaguia.com.br