Sexta-feira solitária, sentei-me
e pus-me a escrever. Caneta entre os dedos da mão direita e um papel
que ainda cheira a lavanda. Surgiu nesse momento, no meu
impenetrável mundo, pensamentos perturbadores sobre nós. Eu sei que
o seu amor deixou de existir. Assim mesmo, decidi escrever-te. Meu
querido tenho ainda muito a te dizer. Não prego os olhos nas
madrugadas, só descanso quando o dia desponta. Minha vida tem sido
solidão e espera. Nenhum sonho, um vazio infernal. São madrugadas
largas que correm atrás do passado. Fomos parceiros por um bom tempo
até que nada mais fez sentido. Você não entendeu meus sentimentos
nobres.
A lua azul em cima da
minha janela brilha quase lavanda, repeti para mim mesma, não me
encontro completamente só, chego até a esboçar um sorriso gostoso,
mas o vazio no meu coração não me deixa mentir. Eu estou só,
completamente vazia e só. Com a cabeça curvada e em reverência ao
sedoso papel e a caneta de tinta negra, senti a saudade tocar na
minha porta sem que eu tivesse pronta para recebê-la. Nesta noite de
suma dor e prazer, escrevo o último lamento de um amor de mim só.
Se você estivesse aqui
dividindo o nosso mundo de prazeres e angustias e se lesse o meu
lamento, engoliria em seco, não faria nenhum comentário. A frieza do
ser humanos dói profundamente no coração de quem ama. Muitas vezes o
homem pode ser uma estrela iluminada, outras vezes, praga do
destino. Com certeza emprestaras à última cena da tua vida para que
eu te perdoe, imagino que antes do teu último suspiro ,pousaras no
meu peito. Assim, poderás descansar em paz. Inconcebível destino!
Como fica difícil
falar do nosso destino sem poder trocar palavras e olhares. Nos
conhecemos na França Provence no mês em que as lavandas ficam bem
floridas e ficamos por lá até meados de agosto. Lembra amor?
Passeamos pelas tardes floridas de Provence. Era “Mon Amour” e nos
banhávamos de carinho, doçura e afeto.
Tão intensa foi nossa
paixão que o tempo parou, para vivermos o amor mais bonito do
planeta terra. Até que casamos numa igrejinha querida e fomos viver
numa casinha adorável. Foram cinco anos, onde escrever e pintar,
passear e visitar os amigos eram obrigações diárias. Cafés e
chocolate, brioches e docinhos. Ah! muito queijo e vinho de
qualidade. Durou o tempo da inspiração e quando faltou paixão veio a
agonia e a discórdia. Nos separamos por uma mulher qualquer. Você
partiu dizendo querer viver com ela o que havia vivido comigo.
Água de Lavanda meu
amor, lembra você. Hoje a tarde acendi uma vela de lavanda e fiquei
saudosa, presente de um amigo que jamais imaginou o efeito que faria
no meu espírito solitário. A Lua continua cheia de um azul-lavanda.
Agora pendurada a janela posso sentir a sua presença, só você me
ensinou a amar de verdade. O meu lamento é o símbolo de quem
aprendeu a perder, para poder ganhar a porta da inspiração sem
mágoas e com piedade. Quero te dizer querido, que te amo. O destino
levou você da minha vida da mesma forma que pôs você no meu caminho,
de um momento para o outro. Quero ainda te ver nos Campos de
Lavanda. |