Ontem fiquei
estupefata!
Percebi, que a
vida nos dá tudo, num sopro do vento pode nos levar o oxigênio.
Nestes momentos
em que com os lábios roxos e a voz calada,
tu perde o
sentido da realidade.
Onde ficaram os
sonhos, valeu sonhar?
Sei que sonhar
é importante como importante é amar.
A vida é nada
mais que um sopro de ar,
é um mar no
sentido total da palavra.
É que as células
do meu sangue são peixes.
Ah! Amazonas,
Manaus, Santo Antônio do Rio Madeira,
Porto Velho,
Guajará-Mirim, Manacapuru.
Pai, se é tão
rápida esta vida,
vou viver.Tenho
uma alma andarilha!
Eu tenho um
boto no sangue.
Ele é: calmo,
alegre, brincalhão e amigo.
O boto é
carinhoso e sorridente.
Levo comigo uma
enorme quantidade de animais.
Existem dias
que sou uma égua,outros uma leoa.
Há dias que sou
uma tigresa,tem tardes que viro gata.
De noite me
torno pantera.
Falo como os
papagaios.
Canto como os
canários.
Nas águas dos
rios sou um peixinho.
Se me ofendem
viro cobra.
Se me maltratam
sou um escorpião.
Pico como o
carapanã.
Amo como as
borboletas.
Quero correr
nos campos,
pisar na terra
e ver o pôr do sol.
Vou plantar e
colher flores.
Comer frutos e
molhar hortas.
Sou uma hóspede
da natureza.
Vou
remar a minha canoa,
até escutar
o uirapuru.
Depois do ajuri
eu quero, minha casa,
minha rede e o
meu cantar.
Como você
vou visitar os arrozais.
Quero Tanger
com certeza.
Mesmo depois de
Tanger, preciso rever
a borracha,
aquela que encheu os bolsos dos coronéis.
Ficou a ilusão
o roubo e a miséria.
Ainda assim, amo a
nossa terra.
Ė a minha
Pátria.
Pai onde estás?
Nina ainda planta no arrozal?
Pai, empresta-me
o teu perdão.Preciso de imediato.
Lá fora o céu é
o meu gozo.
Ando cansada...
Nem me fale de
amor que entra um clarão em minh' alma.
Adormece-me o
coração.
Sinto tanto,
tanto, a tua falta.
Vem Pai,vem...
Dê pinceladas
nesta tela e derrama tintas e cores.
Escreve ao som
dos tambores marroquinos.
Me empresta os
teus dedos longos quero escrever.
Derrama na tela
as andarilhas, as de nádegas devassas, as
Polacas e
judias que foram maltratadas pelas desgraças da
vida.
Que
coisa terrivel foi o golpe das promessas
foi: “Do
deslumbre ao sonho”.
Pobres almas
que ao desviarem-se do destino,
foram
distribuídas e alcançaram o caminho “à l’abandon"
Amazonas
Império dos Poetas.
Amazonas casa
da minh'alma gêmea.
Terra das dores
dos filhos, netos e bisnetos.
Terra do Rio
Amazonas e de outros Rios.
Da Sinagoga dos
sábados. Do Rabino e do Padre.
Jesus!
Milagres!
Cabala e tambores e os santos espíritos sábios.
Ai Pai! Onde
estás?
"Múmia do
Amazonas."
Eu queria me
confessar e resolvi ficar calada.
Como sempre
falei pelos cotovelos...
Só que paizinho
que tu me conheces, sabes o que quero
dizer antes mesmo que eu
reze.
Vou viver
Rabino. Viver!
E vêm uns e
outros falam, estudam,escrevem...
Enquanto há
vida continuo judia católica e espírita fiel.
E se eu não
tivesse o teu sangue seria fácil.
E se em criança
o meu coração não palpitasse por ser judia,
por querer
estudar na tua escola pai, para entender o tal Ídiche?
Ah! Rabino.
Talvez a minha
infância não fosse tão triste.
E, crianças
filhas de mãe católica como eu?
Por acaso, pai
não é pai?
Ah mestre!
Me
senti ignorada, desprotegida e abandonada.
Lembra quando
juntos ,lutamos às escondidas.
Naquela época, enquanto
eu limpava a sinagoga
cercada de ti,
amava o teu Deus. Eu te escutava.
Só tu meu pai
me compreendia.
Que dor sentia
a pobre velha,
ao ver-me na
mesma situação que a dela.
Se foi num sepulcro às escondidas.
Que dor Deus
meu!
Tu Rabino no
teu ritual adormecido.
Rabino, me
escondo ou sigo a maldição?
Rabino,”Preciso
o teu perdão."
Nos rios do
Amazonas e nos barrancos,
deixaste tua
paz e tua honra.
Enquanto te
amávamos, gerações morriam...
Teu nome está
no eco daquelas selvas.
Nas folhas
daquelas árvores.
Naquela terra
deixaste o teu rastro.
Nos seringais à juventude Rabino.
Não houve
mandinga foi tudo na sombra do sol
e no correr do
vento.
No grande poço
da tua alma sedenta e solitária,
foram os sonhos
e segredos.
Tu por virar o
mundo, alí encontrou o agasalho.
E foi na terra
de um Brasil abandonado e mal traçado,
que a guerra
pela terra e o tesouro, fez de ti
um pobre homem
atormentado.
Rabino! Vestida
em saudade, vagando nos teus passos
e a tua sombra
procurando, vejo-me no espelho do espaço.
Rabino, onde ando,
andaste tu até o cansaço.
Embora não
encontre os teus contos, me embriago e
tropeço no
trópico.
Viajo pois meus
pés são de aço.
Visto-me em tua
alma e descubro a eternidade.
Rabino te amo!
Marrocos está
para mim como o peixe para o imigrante
judeu.
“Vou voar como borboletas
e pousar em tuas moradas”. |