Na minha terra natal, aos nove anos de idade, quando o outono chegou, me vesti de amarelo e usei sapatos brancos. Coloquei na cabeça uma travessa de rosas perfumadas e saia pulando como cabrita faceira no meio do parque e só parei quando o lago surgiu na minha frente.

 

Naquela manhã, um barquinho de papel no lago dançava de um lado para o outro. Era controlado por um menino de calças curtas e camisas brancas. Ele levava na cabeça um chapéu a moda galega e uma flor amarela no bolso. Olhei aqueles olhos e meu coração bateu, bateu, bateu.

 

Eu era pretinha da cor de uma azeitona, ele era como leite fresco, cheirava gostoso. Parei para apreciar aquele menino controlando aquela miniatura de barco…

 

Ele cresceu, eu cresci pretinha, pretinha e cheirosa. Viajando de um lado para outro, desfilando de passarela em passarela e querendo encontrar outra vez aquele menino que cheirava a leite freso.

 

Passou o tempo e jamais pude encontra-lo. Não quis mais sentir o outono tocar na minha pele, nem quis mais apreciar as folhas das árvores caírem no parque, muito menos ver o lago vazio… Aquele barquinho tomei para minha vida e ele... continuo esperando…

 

 

 

 

 

 

 

 

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