Eram palavras que
se perdiam no vento...
Ele estava no porche. A brisa que havia trazia o cheiro das rosas.
Batiam nas pedras perfumadas ondas numa manhã mágica.
A
camisola branca de renda deixava o corpo dela a mostra.
Eram duas portas de um azul-pavão.
O
branco das paredes era mais branco que as nuvens do céu.
No porche, vasos de rosas vermelhas e amarelas.
O
cheiro das rosas invadiu as pernas bem torneadas da esposa.
Eles estavam de frente para o mar.
Levantaram para ver o nascer do sol.
Os pescadores pareciam formigas na praia.
O
café cheirava no meio da mesa posta.
As flores brotavam nos pisos das portas e nos parapeitos das janelas.
O
acasalar das pedras e do imenso mar, corria sem destino definido.
Ondas faziam cócegas na areia, era o sorriso dela que ecoava na ilha inteira.
Mergulharam naquela vida leviana há algum tempo.
A
jovem esposa pouco sabia da vida...
O
poeta vivia num mundo a parte.
A
jovem mulher era fogo puro.
Ardeu debaixo dos lençóis de seda pérola a noite inteirinha.
As escritas do poeta ficaram amontoadas num canto.
Confundido na metamorfose dos personagens, ele vivia preso entre crepúsculo e
aurora.
O
jovem homem tinha o livre arbítrio...
Gostava da vida mansa do meditar, do pensar num nada, de deixar fluir os sonhos.
O
Poeta era de pouco viver e muito pensar.
Vez por outra, o jovem homem, enlouquecia entre sacos e sacos de papéis antigos.
Passou naquele momento, uma noiva enrolada em sedas e rendas a caminho da praia.
Cruzaram-se os olhares.
Mais uma estrela inocente, mais uma a caminho de um nada.
Pensou o poeta.
O
poeta estava casado com Lia, mulher que investigava os sonhos...
O
vento tocou suave no rosto de Lia. Os cabelos pararam nas mãos do poeta,
cheirava a lavanda fresca.
Beijou-os suavemente, era amarelo como o sol que
brilhava em Mykonos.
Cortinas brancas voavam por trás das portas azul-pavão.
As pernas firmes da jovem esposa ainda tremiam de solidão e desejo.
Ao poeta importava a beleza, a riqueza da natureza, a caneta e o papel.
A
jovem esposa havia entrado no porche, como entra o vento suave.
Ele observava seu rosto incrédulo, abraçado ao corpo cheiroso...
O
poeta escutava o vento e a natureza.
A
noiva nadou até cansar penando num mar morto,
voltou exausta e se jogou na areia.
A
judia saiu caminhando encharcada sem rumo algum.
Decepcionado o poeta balançou a cabeça de um lado para o outro e entrou na
sala...
Mykonos não se presta para dramas minha estrela.
Falou entre os dentes.
—
Como?
Olhou a esposa, sorriu...
Minutos depois, se pôs a escrever.
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