É impossível imaginar você do outro lado do mundo.

A distância queima o espaço e ficam só lembranças e cansaço.

A espera me angustia Ana Maria.

Daqui não posso ver a cor dos teus olhos, não no dia-a-dia.

Procuro um olhar igual ao teu.

Esse olhar não foi permitido a ninguém mais...

Posso reviver os nossos dias somente quando volto ao Brasil.

Imaculada imagem!

Tua beleza me rouba o tempo, não há discórdia.

Rouba-me, rouba-me, por favor.

Posso ver-te no mais íntimo do teu pensamento.

Ó minha adorada, você ficou distante dos nossos carinhos.

Deito cansado recordando o teu sorriso sereno.

Me pergunto, em que peito tens o teu rosto apoiado?

Com a sensibilidade nos lábios me vejo como

o mais miserável dos homens.

Eu não devia ter te deixado minha querida.

A guerra no mar é um pesadelo.

Hoje vejo que nada na minha vida têm mais

importância que você.

A sociedade sem você não existe, eu não existo,

o mundo não existe.

A guerra, não existe.

Sou o mais fraco dos homens, o mais covarde e o mais franco.

Eu te amo criança, você me completa menina.

Somos a lua cheia no esplendor da madrugada.

Com você a vida não me assusta.

A fortuna chega absoluta nos momentos que dividimos amor.

O barulho das armas soa a distância,

enquanto penso em você, meu amor.

Ah! Minha vida...

O cheiro do teu corpo me persegue entre as bombas que

armo nesta guerra fria.

Quanto daria para estar contigo agora.

Quanto daria para vivermos esse carinho pra sempre.

No começo da primavera quero te abraçar inteira,

se Deus nos permitir, querida.

Passaremos a vida inteira entre flores, frutas, e filhos...

Se esse ainda for o teu desejo.

O oceano hoje está vermelho e triste, existem pedaços

de vida que bóiam no meio das ondas gélidas,

O navio segue seu rumo.

Continuo montando armas, teu cheiro me acompanha menina.

Não sou um assassino, não mato... eles matam.

Eu preparo armas.

Não tenho prazer algum no que faço e

me sinto culpado por tantas mortes.

Guerra injusta!

Podia ter ficado ao teu lado se o desejo de ser um

Oficial da Marinha não tivesse me roubado a história.

Ana, por Deus me perdoa?

Não tinha idéia que a minha juventude seria jogada

num mar de sangue à toa.

Quando chego à proa e vejo esse mar imenso,

lágrimas rolam sem querer parar.

Às vezes a covardia me derruba o dia inteiro, outras vezes sou um marinheiro decidido, um homem que nasceu para lutar.

Na verdade sou um sujeito que doa a vida para

uma nação de irresponsáveis.

Foi assim que me criei dentro do mar, filho de marinheiro, marinheiro é...

Dizia meu pai que um oficial eficiente tem que ser um guerreiro forte.

Não sou assim, minha querida.

Sou um covarde atormentado pelo amor de uma mulher.

 

 

 

 

 

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