Tocava o banjo o homem com sorriso nos olhos.
O
som doía profundo.
Senti um lamentar distante.
Sentado na escada em frente a casa simples,
tinha os olhos perdidos no tempo.
Assobiando algumas vezes, levantava os olhos
em direção a minha face perplexa.
Nada acontecia por acaso.
O
jovem homem me atraia com o eco
daquela voz caipira.
Ele me causava um desejo de beijar e de abraçá-lo.
Queria dedicar a minha vida inteira a ele,
mal o conhecia.
O
meu silêncio lhe incomodava.
Nos penetrávamos com o olhar,
nos explorávamos por inteiro.
Era um demônio o cantador, um gozador,
uma alma de outro mundo,
um vagabundo, um galanteador.
Mesmo assim, o jovem homem mostrava
uma decência que metia medo.
Não tenho vergonha de dizer que eu o despi,
desde o pescoço até sentir o cheiro do último osso.
Os lábios secos seguravam o cigarro,
ele apertava com os dentes e me desejava.
Tocava pra mim, era pra mim
que ele tocava aquele lamento de amor.
Amei naquela amanhã o moleque sem pudor algum.
Os olhos dele eram cor de pêssego.
“Lindo”, falei cordialmente,
meus olhos estavam grudados nos dele.
Sorriu, me agarrou e me beijou enlouquecido.
Desculpa, você queria isso não é mesmo?
Calei-me, olhando incrédula.
Retruquei, eu?
Respondi, queria.
Foi o vento forte quem nos fez repetir o beijo.
O
sol havia caído quando nossos corpos se separaram.
Pela primeira vez na vida fui audaciosa.
Ela, pareceu na hora certa. Um olhar frio e acusador.
Era a dona daquele corpo quente,
daquela alma belíssima,
daquele ser solitário.
A
dona do meu sonho era ela.
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