Depois que o vi pensei, Deus!
Você continua aí?
E aí, foi só uma risadinha e
pronto.
Ela me observou atônita.
Não é a primeira vez que eu
trabalho com papel.
Meu mundo vaga na qualidade do
papel.
Meu olhar viaja no mundo
fascinante do Papel...
A natureza do papel não se
iguala.
Fico com ele o tempo
necessário,
fico ouvindo o que me sopra...
É no papel que fica o início
do meu trabalho e,
a medida que crio sou
surpreendida.
Eu caio inteira na liberdade e
no aconchego dos fatos.
Vem a visão e surge a ficção.
Distante da minha vida privada
a Política me fascina,
um idealismo natural de uma
poetisa que recicla há séculos.
Ah! Mas isso não. Café e
Borracha e Escravidão. Isso não!
Hoje as terras de ninguém
abundam...
Isso é terrível!
Ah! Isso é que não.
Desrespeito, isso não.
Nem mais as coleções de
bonecas, isso é que não.
Nenhum borrifo de “Bond
Street”
Nem mais as lágrimas de
menina.
Será que elas foram condenadas
à história?
Ah! Isso não.
Eu na minha natureza ingênua
sigo na mesmice da infância,
e o lápis no vai-e-vem...
no meio da tarde de um dia
qualquer.
Os lábios secos e os olhos
dourado pela luz do sol.
Deitada, barriga para baixo,
no chão de estrelas, como cadela quente eu escrevo.
Segue ali a boneca
desengonçada de “Papie marche”,
empoeirada, cerca a gaiola dos
pássaros histéricos.
Nós tivemos um caso na
infância...
Enquanto os meus pés de anjo
voaram,
a pobre boneca no bungalow
abandonada,
buscou um olhar amigo.
Sem vergonha de admitir a
bonequinha de
Papie Mârché,
sempre foi uma velha
adormecida.
Eu seguia ali terminando o meu
trabalho,
envolvida com a história,
abandonada no demônio do papel.
Caíram as primeiras gotas de
chuva, o cheiro de unidade varou a janela
Perdi tudo que havia no
cérebro. Minhas narinas fecharam,
o ar faltou. A ansiedade calou.
Pálida e sem ar, olhei para a
bonequinha de papel marche, que acostumada à umidade,
a solitária boneca de olhar
frio sorriu.
Fiquei atenta, a mercê da tempestade,
que parecia trazendo a morte do papel. |