Sentada com os pés enfiados na areia acompanho o voo das gaivotas.
A palidez da minha pele choca neste entardecer de um dezembro triste.
As ondas bailam e o vento sacode meus cabelos, e
no quebrar das ondas chega aos meus pés um cardume de peixinhos
correndo de um lado para o outro.
Como é bom reencontrar a criança escondida aqui!
Meu vestido agarrado ao corpo molhado,
como antes meus olhos estavam.
Nada mais importa a não ser a morna sensação da infância.
A Praia e eu... Quanto tempo ficamos separadas.
Que ausência d’alma perdida pode escapar de um amor eterno!
As alegrias tenho guardadas como pétalas de rosas secas, e
o som das nossas vozes seguem cada vez que
aperto uma pétala de rosa seca.
Quantas gotículas da brisa molham hoje a tua cama, eterno amor meu.
O tempo parou neste dezembro negro.
O verde da tua farda ainda queima o meu coração,
e teu respirar lento viajou no meu rosto
tentando encontrar a verdade dos meus sentimentos algumas décadas,
os quais reconheci assim que te vi por primeira vez.
O que me tem destruída é o silêncio que me foi imposto.
Quebro cristais para escutar o som, quem sabe encontre uma palavra tua.
Oh! Praia abençoada que nos recebeu
nas manhãs de domingos do Rio de Janeiro,
O mar continua chorando enquanto observo os peixinhos brincar
O sangue jorrado foi estancado no teu país
por suas mãos e o que sobrou senão
Um sonho de esforços, luta e solidão.
Fomos levados por caminhos tortos, vícios comuns,
e uma avalanche de desejos de ajudar
a quem jamais entendeu o que era o nosso amor.
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