A
idade me premiou com algumas virtudes e alguns fracassos,
quando penso no tempo;
sinto-me numa corda bamba e,
não sei se vou chegar na velhice com a mesma
firmeza
da juventude no destino que escolhi seguir.
Ah!... Lembro que na minha juventude,
o tempo corria lento, o vento soprava na
pele o gosto da vida.
Hoje, o tempo corre e, não consegue me doar
senão promessas.
Os sonhos se perdem
no meio do destino que me joga
de um lado para o outro, penso que tudo está bem,
mas não é verdade, pois é o tempo quem decide a verdade.
Meus filhos adultos, não posso mais segurar no colo,
proteger, alimentar no
seio, não posso mais decidir
onde levá-los, o que comprar para o início do ano
escolar.
Não posso mais levá-los ao medico…
O tempo me roubou a preciosa vida de
mãe.
E, quando procuro meus pais, encontro
as orações da noite que me ensinaram.
O
tempo levou para não sei onde,
o meu herói e a minha mãezinha.
Não é saudade, é tristeza, uma tristeza infinita.
Um dia o vento soprou o cheiro do meu marido
no meu ombro e, quando virei o
rosto ele estava sem vida,
e, o tempo me havia roubado o grande amor da minha
vida.
Não é saudade, é tristeza.
Ficaram as rosas, os copos de leite, os cravos brancos que,
também em breve
estarão secos e sem vida.
A
árvore onde escrevemos nossos nomes está velha,
perdeu a beleza, raízes brotam
da terra anunciando que
o tempo é curto e, que um dia desses ela cairá
enfraquecida.
Olhando ao redor são poucos os que sobraram das famílias,
a grande família que
unida brigou pela herança e,
que pouco desfrutou, porque o tempo não tem
piedade.
Não adianta a casa, os luxos, os prazeres se não foram usados
para o desfrute
momentâneo,
pois tudo fica, tudo se perde no espaço.
E
não é saudade, o que fica é tristeza, uma tristeza imensa.
Sorrisos, gargalhadas, deboches, críticas, tudo fica,
tudo é nada e, o quase
nada é tristeza.
Hoje, amanheci procurando colocar na palma da minha mão,
tudo que consegui na
vida, tudo que fiz, tudo que criei e
o que pensei criar, escorriam como gotas
d’água
os meus feitos no tempo da vida.
Nem os sonhos realizados deixaram de ser um nada,
um enorme eco do nada.
|