Um belo dia
surge do nada uma idéia... Vou assistir hoje. Podia parecer estúpida àquela
minha decisão repentina, porém, sabia a importância que tinha naquele momento da
minha vida me desligar da realidade para viver um prazer que sempre tive a
vontade de viver, escutar o meu cantor preferido. E, foi exatamente assim que
tudo começou naquela noite em Paris no Moulin Rouge no ano de 1960.
Entrei, o
show já havia iniciado. Extremamente emocionada me instalei numa das poltronas
da primeira fila da famosa Moulin Rouge. Paguei caro para ficar enfrente ao
palco. Eu assistia a pouca distância o show. Sempre me imaginei naquele lugar,
só assistiria o meu cantor preferido se fosse naquelas circunstâncias. Esperei
até o dia que decidi me presentear. Estava feliz e ansiosa. Enfim, lá estava ele
lindo sempre bem vestido, cantando como um rouxinol apaixonado. Meus olhos
negros chamaram os dele como imã. Sedada no prazer romanesco do som, eu cantava
com ele, repetindo a letra da música. Houve um momento que os meus olhos
chocaram com os dele, o inédito olhar, me fez sentir uma estrela. Eu sabia que
brilhava somente pra ele. Incrível momento!
Tornei-me uma
adolescente aos 45 anos pensando na juventude lá atrás, eu nunca me imaginei
vivendo tremendo absurdo. Eu acabava de me apaixonar por uma figura pública...
um cantor Frances mais conhecido que um copo de cerveja na mesa de um bar.
Naquele momento me joguei na vida. A voz dele me causava um frisson. Meu Deus!
Eu quero este homem, pensei desejosa na fé de obter o meu sonho rapidamente.
Quando ele
piscou-me duvidei que fosse pra mim... Quando piscou outra vez pensei, esse é
meu homem. Quando terminou o show fui convidada a visitar o camarim do cantor.
Depois de trocarmos assuntos tímidos, tomamos um refrigerante e ele me convidou
para acompanhar-lo até o hotel onde estava hospedado. Aceitei sem pensar em mais
nada. A noite foi impactante, nunca esperei uma noite daquelas. Na manhã
seguinte depois do banho, ele me mandou café completo, rosas no quarto e ainda
me deixou um bilhete carinhoso,onde dizia: Te adoro querida. Vamos nos ver em
breve.
O silêncio do
quarto me fez pensar na loucura que eu havia vivido. Bem, hoje é outro dia, ele
foi apenas delicado. Sai dali, peguei um taxi direto pra casa. Deveria estar no
escritório a uma da tarde. Cheguei em casa me troquei rapidamente, ajeitei os
cabelos e peguei a primeira chamada do meu escritório onde trabalhava como
advogada, na correria ainda calçando os sapatos recebi uma outra chamada
telefônica do escritório.
– O que foi
agora?
– Doutora a
senhora tem um cliente a uma da tarde, esqueceu?
– Não querida
estou chegando... Em meia hora estarei ai.
Peguei a
bolsa e quando abri a porta: Lá estava ele em pé com o dedo na campainha.
– Oi!
– Você aqui?
Ele me olhou e abriu um sorriso brilhante.
– Como você
descobriu meu endereço
– Foi fácil
te encontrar. Meu segurança ajudou.
– Posso
entrar
– Entra, por
favor, não repare estava de saída. Tenho um cliente a uma da tarde. Ajeitei os
cabelos, aquele beleza estava na minha frente... Ah! Se eu pudesse ficaria ali
com ele o resto da minha vida. E acabávamos de nos conhecer, como poderia sentir
isso.
– Não vou
demorar, posso pelo menos te ver mais tarde?
– Te chamo
quando sair do escritório, ficamos assim.
– Eu sei
advogadas trabalham mais que os advogados. Eu sorri... pelo visto ele já sabia
um pouco da minha vida.
– Venha eu te
levo para o escritório. Estava decidido, sabia que não conseguiria sair dessa.
– Certo, eu
só preciso passar no carro para pegar alguns documentos.
– Te
acompanho.
– Vamos
querida. Mas antes, um beijo minha boneca.
Deus Meu! Eu
não acreditei no que estava acontecendo, era uma energia belíssima, empolgante,
feliz. Me segurou no cotovelo e abriu a porta do elevador, me acompanhou até meu
carro e depois, fomos em direção ao carro dele, onde um chofer esperava por nós.
Entrei e me acomodei tímida, coloquei os documentos no colo.
– Diga
querida, o endereço de onde vamos te deixar.
Dei o
endereço, e ele imediatamente ordenou que o chofer seguisse o mais rápido
possível, pois eu estava tarde para um compromisso. Logo, retirou os documentos
do meu colo e abriu um porta documentos e colocou dentro do compartimento os
papeis. Observei os movimentos dele, notei que os movimentos de gentileza eram
completamente naturais. Colocou o braço por trás do meu pescoço e me olhou nos
olhos, foi um beijo que jamais esquecerei. Ele era de poucas palavras, de
atitudes firmes, mas leves. Nós nos entendíamos sem falar coisa alguma.
– Eu te pego
no final da tarde, posso?
– Pode, eu te
chamo antes... Que surpresa do destino! Não acreditava. Passei a tarde sem poder
me concentrar no trabalho. Ouvi meu cliente, mas tive que marcar uma outra
entrevista. Enfim, no final da tarde eu queria mesmo era cair nos braços dele,
ouvi-lo cantar somente pra mim. E foi o que aconteceu, fez um show só pra mim no
piano. Nós bebemos, dançamos, fizemos amor e fizemos promessas. Dois meses
depois estávamos casados.
A vida dele
eram shows e compromissos, a minha eram chamadas diárias quando ele estava fora.
Quando estávamos juntos, a vida era um céu de harmonia.
Seis anos se
passaram. Naquele ano, quando o inverno chegou decidimos tirar umas férias, não
havíamos saído de Paris porque a nevada estava violenta. Pensamos viajar, ainda
não havíamos decidido onde ir. Por compromissos dele ficaríamos dois dias pelo
menos em Paris. Na segunda noite de férias, estávamos assistindo um filme
deitados na cama de casa, de vez enquanto, trocávamos algumas palavras sobre o
filme. Ele me pediu um copo d’água, sentia a garganta seca. Levantei fui até a
cozinha, quando voltei com o copo, olhei pra ele estava ofegante, peguei o
telefone e chamei a ambulância, ele estava sem respiração e segurava o peito,
dizendo sentir uma forte dor.
– Chystopher
responde amor, você esta me escutando? Pelo amor de Deus responda...
CHRISTOPHERRrr gritei para o mundo ouvir. Acabava de falecer. Tinha nos lábios o
mesmo sorriso meigo que costumava me ofertar. Deitada ao lado dele... nada que
eu poderia dizer explicaria a gama de sentimento que havíamos vivido. Como sexo
é bonito quando existe uma atração verdadeira. A serenidade do silêncio cortou o
meu peito ao meio e o timbre da voz dele, o som de suas palavras estavam
presentes naquele momento terrível. Fiquei ali trêmula deitada ao lado dele como
pluma sem vento. Não havia energia alguma. O que haviam eram palavras soltas no
meu ouvido, um sorriso fiel nos lábios pálido do único homem que amei na vida.
Eu havia roubado aquela alma, ofertei a ele o melhor de mim, entendia que os
espíritos permaneceriam unidos pra sempre. Deixei-me embarcar naquela tristeza
infinita, sabia que jamais nos veríamos fisicamente. Merda! Merda de Vida!
Perdi, eu perdi. A porta se abriu eram os paramédicos que havia chegado na
ambulância, eles chegaram meia hora depois da minha chamada. O trafego, sempre o
trafego de Paris. Fechei os olhos e quando abri era uma chuva de lágrimas no meu
rosto.
As lembranças
do dia em que nos conhecemos não saia da minha mente.
– Boa noite
beleza. Como você se chama?
– Juliana.
– Prazer
Juliana. Naquele momento havia penetrado num mundo de ilusões. Vivi aqueles
momentos como se o tempo fosse acabar naquela mesma noite. Era um homem, uma
mulher e desafio do destino. Aquela noite as horas haviam ficado estáticas
exatamente como naquele momento da sua partida.
Vivemos
deliciosos momentos, foram seis anos de felicidade completa. Hoje bateu a
saudade e resolvi escrever sobre o meu sonho e o destino dele.
|